EMDR e Brainspotting: terapias baseadas no cérebro
O que são terapias baseadas no cérebro?
São abordagens psicoterapêuticas que acompanham as últimas descobertas da neurociência. As terapias baseadas no cérebro fazem parte da área que se desenvolve mais rapidamente no campo da saúde psicológica, pois elas têm provado que podem imediatamente tratar de questões que a terapia verbal tradicional pode demorar anos para cicatrizar.
O EMDR foi inicialmente desenvolvido pela Dra. Francine Shapiro, PhD, para tratamento de Transtorno de Stress Pós Traumático, que é um quadro vivido por muitas pessoas após viver um trauma ‘clássico’, como assalto, estupro, abuso sexual, acidente, tragédia climática, etc. Pra esse tipo de caso, o EMDR tem mais de 90% de eficácia, o que nenhuma outra forma de terapia psicológica ou medicamentosa hoje alcança. Ganhou o selo pelo Depto de Saúde Mental do governo americano como abordagem de eficácia reconhecida cientificamente pra esse tipo de tratamento. E ao longo dos anos, os estudiosos foram descobrindo que ele também é eficaz para traumas não tão clássicos. Por exemplo, crescer em uma família muito ansiosa, ou violenta – fisicamente ou emocionalmente; ter uma história de muitas vivências de humilhação; negligência emocional; crescer com uma sensação de solidão constante, etc. A técnica é feita por meio da estimulação bilateral (ocular, auditiva ou tátil) dos hemisférios cerebrais e permite o reprocessamento de lembranças dolorosas através da integração do conteúdo neuronal em diferentes hemisférios cerebrais.
Já o Brainspotting foi descoberto pelo Dr. David Grand, PhD, através do EMDR. Trabalha de forma muito parecida, alcançando experiências e sintomas que normalmente estão fora do alcance da mente consciente. Mas lida mais ainda com o cérebro ‘profundo’ e com o corpo mediante acesso direto dos sistemas autônomo e límbico do sistema nervoso central. É um método de trabalho emocional que tem consequências psicológicas, emocionais e físicas. Nesta técnica procuramos encontrar o “brainspot” – i.e. um ponto específico no cérebro – que é a posição ocular relacionada à ativação energética/emocional de um tema perturbador. Localizado por meio da posição ocular, o brainspot é um subsistema fisiológico que armazena a experiência emocional perturbadora sob a forma de memória.
A terapia baseada no cérebro requer a elaboração de um plano de tratamento cuidadosamente definido, por isso deve ser realizado somente por um psicólogo ou médico devidamente treinado por instituições reconhecidas internacionalmente.
Mas como elas funcionam?
Sabemos hoje que nosso cérebro é programado para processar todas as nossas experiências de vida. Esse processamento funciona assim: vamos imaginar que hoje pela manhã a Dona Joana, vizinha, me deu um ‘bom dia’ muito mal educado. E eu fico magoada, pois sempre trato D. Joana tão bem. “Como ela pôde fazer isso comigo?” Então durmo. E é de noite que nosso cérebro faz a maior parte de seu trabalho de processamento. Ele ‘digere’ aquela vivência, e acordo dia seguinte, olho pra D. Joana e penso: “Mas que bobagem minha me incomodar com D. Joana! Nem é uma pessoa significativa em minha vida! Ela devia estar num dia ruim, não vale à pena me chatear.” Eu consigo enxergar o mesmo problema com uma perspectiva mais saudável, mais adaptativa, entende? Esse processamento que o cérebro faz é como se fosse uma digestão: ele aproveita o que preciso de minhas experiências de vida, mas manda embora o que não preciso: os sentimentos de ansiedade, de mágoa, por ex. E então aquela vivência não mais interfere negativamente no meu presente. Esse é um mecanismo de autocura que nosso cérebro tem, assim como tem o resto do meu corpo. Se fizer um corte no braço e meu corpo está saudável, ele mesmo vai cicatrizar o corte.
No entanto, da mesma forma que se o corte no meu braço for muito profundo, meu corpo pode não dar conta de se curar sozinho, e o mesmo acontece com meu cérebro: se a experiência emocional for muito intensa, meu cérebro pode não dar conta de processá-la. Quando isso acontece, a experiência é armazenada de uma forma ‘não processada’, ainda contendo as emoções, sensações e pensamentos negativos que ocorreram no momento do evento original. Então, quando estou diante de algo que me remete àquela memória, mesmo que seja algo simples e sem significado, vou sentir as mesmas sensações de raiva, mágoa, ansiedade, sem muitas vezes entender por que. Isso pode acontecer anos depois do acontecido inicial, mesmo que eu não tenha mais a memória consciente do que houve.
No exemplo da D. Joana, vamos imaginar que eu tenho um histórico de uma mãe muito verbalmente agressiva. Provavelmente muitas das experiências com minha mãe na infância não foram processadas e ficaram armazenadas com a mesma mágoa e autocondenação da época (A criança não tem condições de entender que a mãe é que é desequilibrada. Ela normalmente entende que se a mãe a xinga tanto, é porque é uma criança muito má, crença que pode carregar pela vida toda, se achando sempre culpada por tudo). Então D. Joana pode virar um disparador para os sentimentos não processados em relação à minha mãe, e meu cérebro de novo pode não conseguir processar essa experiência. Então vou acordar dia seguinte e continuar incomodada com a D. Joana. Uma parte minha sabe que é bobagem, mas outra parte fica remoendo aquilo tudo, pois mesmo sem eu me dar conta, estou reagindo não só à D. Joana, mas a todas as memórias não processadas a que aquela experiência me remeteu.
Então o EMDR e o Brainspotting nos ajudam a fazer o que um dia nosso cérebro sozinho não deu conta de fazer: processar as experiências da minha história que continuam disparando sentimentos, comportamentos e/ou pensamentos negativos e que podem ser pano de fundo para vários transtornos psiquiátricos. Usamos técnicas específicas para identificar a raiz do problema e aplicamos o reprocessamento. E nos casos em que não conseguimos encontrar o evento que os dispara, podemos usar as técnicas para que nosso cérebro nos mostre o caminho ou a melhor resolução. Seja seu problema grande ou pequeno, é muito provável que memórias não processadas estejam atuando. O inconsciente não é mais pra nós um lugar obscuro. São reações de causa e efeito que agora podemos identificar e transformar.
E qual a duração deste tratamento?
Uma ou mais sessões são necessárias para o diagnóstico e para que o terapeuta possa definir se o paciente tem indicação para esse tipo de trabalho. A duração do tratamento em si será determinada pelo tipo de problema, circunstâncias de vida e quantidade de traumas/memórias dolorosas a serem tratados. Mas tem sido observado que estes métodos reduzem significativamente a quantidade de sessões necessárias para um tratamento. Ambas as técnicas podem ser usadas dentro de uma terapia verbal tradicional complementando a terapia, como abordagem principal, ou como uma terapia complementar á terapia tradicional.
Elas tratam que tipo de patologias?
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT – Transtorno resultante de traumas como abusos sexuais ou estupros, assaltos, violência, sequela de guerra e desastres naturais, mortes traumáticas, etc.)
Vítimas de abuso (físico, moral ou sexual)
Lutos complicados (pesar excessivo diante de uma perda)
Fobias (medos incapacitantes, medo de animais, de falar em público, de lugar fechado, de avião, etc.)
Muitos quadros de depressão
Manejo de dor crônica
Memórias dolorosas e perturbadoras
Transtornos de ansiedade
Crenças negativas sobre si mesmo ou sobre a vida
Auxílio no tratamento de dependência química e adições
Controle da obesidade
Transtornos dissociativos
Doenças psicossomáticas
Estas técnicas também têm sido usadas para o aprimoramento de desempenho futuro e criatividade (para estudantes, artistas, atletas, etc.).
Importante: EMDR recebeu um alto nível de recomendação pela Associação Americana de Psiquiatria e pelos Departamentos de Saúde Mental de Israel, Irlanda do Norte, Inglaterra, França, Suécia, e outros países. Para uma lista completa, visite: http://www.EMDRHAP.org/researchandresources.htm
Em Maio/2011 foi aprovado como uma abordagem psicoterapêutica baseada em evidências, recebendo o mais alto selo de aprovação e garantia dado pelo NREPP do governo americano – Registro Nacional de Programas e Práticas baseadas em Evidência. Este registro quem dá é o Departamento Americano de Saúde e Serviços Humanos. Link para o documento oficial: http://nrepp.samhsa.gov/ViewIntervention.aspx?id=199. Websites e profissionais que questionam a eficácia do EMDR, ou dizem que há pouca pesquisa relacionada à técnica, estão desatualizados.
Para ver a lista de pesquisas:
http://www.plazacounselingservices.com/linkserecursos/pesquisasemdr.html
texto adaptado por Patricia Jacob